Bolsonarismo, nada a dizer!
Edmar Ribeiro
28/08/2024
O bolsonarismo, esse bicho esquisito, enraizou-se no Brasil como quem chega de mansinho, mas com uma fome insaciável de tudo. Em um país já calejado por suas próprias contradições e singularidades tropicais, o fenômeno emergiu como um espetáculo bizarro, um desfile de idiotices que seria cômico, não fosse o grau alarmante de seriedade com que é tratado. O Brasil, sempre disposto a rir de suas próprias tragédias, parece agora viver em um teatro do absurdo, onde a desfaçatez é celebrada, e a falta de vergonha é exibida como troféu. A turma do “bozó”, contudo, tem uma habilidade incomparável de transformar a própria ignorância em piada, rindo alto daquilo que deveria envergonhar.
Mas, engana-se quem pensa que se trata apenas de uma questão de ideologia política, de um embate entre direita e esquerda. Não. O bolsonarismo é mais que isso; é uma caricatura do Brasil profundo. É a mistura do futebol de várzea, onde o grito de “Mengo!” é proferido com mais fervor do que qualquer argumento político, com a superficialidade das piores sessões de autoajuda. É a figura do tiozão do churrasco, que depois de algumas cervejas acha que virou especialista em tudo: geopolítica, economia global e até saúde pública. Ele fala, com a mesma certeza que pede para virar a picanha, que a Terra é plana e que a cloroquina cura de tudo, desde a COVID até a briga com a esposa. É o retrato de um Brasil simplório, que prefere a segurança de respostas fáceis para problemas complexos.
Há, no bolsonarismo, uma aura de trapalhada bem planejada, uma mistura de ignorância e malícia que dá a seus adeptos a sensação de que descobriram a chave do universo. Acreditam-se iluminados, possuidores de um saber oculto que lhes confere o direito de julgar, condenar e, acima de tudo, rir de quem pensa diferente. São, em sua própria visão, os guardiões da moral e dos bons costumes, ainda que esses costumes sejam, na prática, tão tortuosos quanto as cuecas amarrotadas de um boiadeiro após um longo dia sob o sol escaldante. Esse moralismo é flexível como plástico, moldável conforme a necessidade, mas sempre sustentado por um ar de superioridade incontestável.
No fim das contas, o bolsonarismo é uma piada mal contada por alguém que não entendeu o punchline, mas que insiste em contar, rindo sozinho, enquanto a plateia, perplexa, tenta encontrar algum sentido no que ouve. O bolsonarista é o personagem tragicômico de uma farsa que, se não fosse tão preocupante, seria apenas risível. Se ele não existisse, talvez fosse preciso inventá-lo, só para que tivéssemos alguém a quem olhar quando a realidade se torna tão insana que parece saída de um programa de comédia dos anos 60 – mas sem a sutileza, sem o talento, e com muito mais gritaria. É uma figura que, em sua essência, lembra que a realidade pode ser mais estranha do que a ficção, e bem menos engraçada.