EDITORIAL

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A Suspensão das Emendas: O Grande Teatro da Politicagem

 

Brasil! Terra onde as decisões mais sérias parecem emergir de um enredo que se poderia chamar de comédia trágica. No último ato deste nosso teatro político, o ilustre ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, decidiu manter em suspensão o repasse das emendas parlamentares. E por que, meus amigos, tal desatino? Porque, em uma cena digna de um Oscar, o Congresso, esse labirinto subterrâneo onde a transparência é tão elusiva quanto um sonho esquecido, se recusa a revelar os segredos mais comezinhos do uso dessas emendas.


Que ironia! Os representantes da nação se ocultam atrás de um denso véu de mistério, enquanto o povo – esse mesmo que lhes confere o poder – clama por nada. A que ponto chegamos, nobres senhores do parlamento? Haverá, acaso, alguma realidade subjacente à mera frase de efeito que se dissolve nas palavras ensaiadas? O que é mais alarmante: o fato de que o STF tenha que exercitar o que deveria ser uma prerrogativa da Câmara, ou a certeza de que, sob a luz baça da noite, nossas emendas possam se metamorfosear em verdadeiros labirintos de favorecimento?


Durante aquela audiência, esperávamos mais do que sussurros cúmplices entre os parlamentares. A expectativa era ver despontar, na presença do Ministério Público e dos partidos, uma luz resplandecente no obscuro túmulo da corrupção. Mas, em verdade, o que presenciamos foi uma recusa ousada em atender aos requisitos mínimos de transparência. Por que tanto temor em mostrar os rostos? O que se oculta sob este manto de opacidade? Um autêntico desfile de vaidades e interesses pessoais, onde a ética é relegada a mero ornamento, como um enfeite de Natal esquecido em algum canto.


A compreensão do contexto é, inegavelmente, essencial. Enquanto pautas anti-STF ecoam ferozes no seio da Câmara, a pergunta que não se aquieta é: quem são os verdadeiros vilões desta narrativa? Seriam os parlamentares, que em vez de fomentar um debate vigoroso e democrático, enveredam por uma cruzada contra a justiça? Ou estaremos diante de um palco onde todos, envolvidos em suas próprias tramas, buscam apenas a fatia do poder que lhes cabe, indiferentes às consequências que sobressaem para a sociedade?


Às vezes, indago-me se esses legisladores têm noção da gravidade de suas ações. A suspensão das emendas clama como um brado de alerta, um chamado à responsabilidade que eles parecem ignorar com a mesma naturalidade com que trocam de vestuário em um espetáculo. Enquanto isso, o povo, sufocado pelas mazelas de uma gestão apática, continua a suportar as pesadas consequências desse descaso.


Assim, deixo uma pergunta flutuando no ar: até quando permitiremos que a politicagem transforme nossas páginas democráticas em um verdadeiro circo? Que os parlamentares se recordem, por fim, de que sua missão vai além de meramente preencher assentos; são, acima de tudo, os guardiões dos interesses desta nação. Ah, mas o mais triste é que, através da única alternativa que ainda resta – o voto – o povo perpetua a presença de figuras que, por seus atos, mereceriam ser desterradas do parlamento.